quinta-feira, 1 de maio de 2014

LEITURA DE VIAGEM

Havia antes de tudo,
o desejo de decidir as coisas.
Era manhã, a data não foi escrita,
só se sabe que chovia forte.

Aquele velho eremita,
havia de andar por muitas estradas,
pisar em muitas pedras;
e chorar muitas lágrimas no silêncio e na solidão.

Mas apesar de todos os contratempos,
o olhar daquele ancião refletia juventude.
Afinal de contas o envelhecimento do corpo
é só um dos passos alquímico da alma.

Pois se analisarmos bem,
veremos que muitas crianças já nascem velhas,
e em contrapartida percebemos,
que quase todos os velhos se tornam crianças.

E foi atrás dessa transformação irrefutável
que o andrógeno eremita percorreu suas estradas;
as vezes o vento corria a sua frente,
movendo folhas secas e agitando ramos.

Mas o velho homem nunca teve pressa,
desde menino sempre soubera esperar à hora certa;
e não seria depois de tudo que perderia este dom.
Diz a lenda que esse homem jamais chegou ao seu destino.

Caminhara um passo depois do outro por toda sua vida,
e quando cansado seguiu adiante sem esmorecer;
não teve arrependimentos, nem ataques de fúria.
Talvez o que ele quis foi se tornar esse andarilho admirável.

Que tendo rumos para seguir,
seguiu primeiro o que disse sua virtude;
e tendo palavras a dizer, preferiu ouvir seus melhores sentimentos.
E talvez quando deitou-se para a morte
tenha descoberto que a realização máxima de um ser,
seja viver a plenitude da vida...

Como a flor que se abre em botão,
e depois de tudo sente caindo-lhe as pétalas;
e num toque sublime dos Anjos,
na serenidade de um simples mortal,
deixa tombar seu corpo sobre a terra;
e finalmente adormece.


                                                      

                                             Julio cesar da Costa


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