segunda-feira, 19 de maio de 2014

UM POUCO SOBRE O POETA PORTUGUÊS MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

                   Olá meus queridos leitores, que bom poder me comunicar com vocês mais um pouco. Bom, hoje escreverei um pouco sobre um dos mais expressivos poetas português: Mário de Sá-Carneiro. Nasceu em Lisboa, em 1890. Perdeu sua mãe aos dois anos de idade. Após ter concluído os estudos secundários, vai para Paris(1912), a fim de fazer o curso de Direito. Nesta mesma época publica um livro de contos, (Princípio), e começa a fazer poesia. Passa suas férias em Lisboa (1914), onde junta-se a Fernando Pessoa e a outros jovens, lançando o 'Orpheu" (1915). Publica (Dispersão e A confissão de Lúcio). Por questão financeira, assim que regressa a Paris põe termo à vida, em 26 de abril de 1916. Abaixo segue dois de seus principais poemas, prestem atenção no seu modo singular de se expressar:

                                                Quase

                Um pouco mais de sol -- eu era brasa,
                Um pouco mais de azul -- eu era além.
                Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
                Se ao menos eu permanecesse aquém...

                Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
                Num baixo mar enganador de espuma;
                E o grande sonho despertado em bruma,
                O grande sonho -- ó dor! -- Quase vivido...

                Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
                Quase o princípio e o fim -- quase e expansão...
                Mas na minh'alma tudo se derrama...
                Entanto nada foi só ilusão!

               De tudo houve um começo... e tudo errou...
               -- Ai dor de ser quase, dor sem fim... --
               Eu falhei-me entre os mais, falhai em mim,
               Asa que se enlaçou mas não voou...

              .........................................................................
              .........................................................................

             Um pouco mais de sol -- e fora brasa,
             Um pouco mais de azul -- e fora além.
             Para atingir, faltou um golpe de asa...
             Se ao menos eu permanecesse aquém...

Neste poema, observamos a insatisfação total do poeta. Percebe-se uma antipatia contra a vida do homem. Ele escreve de maneira egocêntrica, enredando-se no labirinto do seu próprio "eu". Abaixo segue-se mais um de seus poemas atormentados, mas de um lirismo fantástico:

                                            Caranguejola

                      Ah, que me metam entre cobertores,
                      E não me façam mais nada!...
                      Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
                      Que não se abra mesmo para ti se tu la fores!

                      Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
                      Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
                      Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
                      Bolos de ovos e uma garrafa de madeira.

                      Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
                      P'ra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
                      Que querem fazer de mim estes enleios e medos?
                      Não fui feito p'ra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

                     Noite sempre p'lo meu quarto. As cortinas corridas,
                     E eu aninhado a dormir, bem quentinho -- que amor!...
                     Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor --
                     P'lo menos era o sossego completo... História! Era e melhor das vidas...

                    Se me doem os pés e não sei andar direito,
                    P'ra que hei-de teimar em ir para as salas, de lord?
                    Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
                    Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

                    De que me vale sair, se me constipo logo?
                    E quem posso eu esperar, com minha delicadeza?
                    Deixa-te de ilusões, Mário! Bom edredão, bom fogo --
                    E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

                    Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
                    P'ra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
                    Tenha dó de mim. Co'a breca! Levem-me p'ra enfermaria!--
                    Isto é, p'ra um quarto particular que meu Pai pagará.

                   Justo. Um quarto de hospital, higiênico, tudo branco, moderno e tranqüilo;
                   Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
                   De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
                   E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...

                  Quanto a ti, meu amor, podes vir às  quintas-feiras,
                  Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
                  Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
                  Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo mais acabou.

A obra de Sá-Carneiro é mais espontânea que a de Fernando Pessoa. É um homem incapaz de viver entre os homens de seu tempo. O poeta sofre os perigos oferecidos pela confusão interior, justamente porque encara a realidade sob o prisma emocional. Para ele, o racionalismo não tem maior destaque, e deixa o campo livre para a emoção reinar arbitrariamente. O resultado de suas emoções, sem alicerces filosóficos, fez que ele se lançasse nos profundos abismos de "eu", suicidando-se.
                   Mário de Sá-Carneiro deveu muito ao simbolismo, ao Interseccionismo e Sensacionismo, ao Cubismo, ao Futurismo e a Gomes Leal, mas o conteúdo de sua poesia é de profunda originalidade, comunicada de forma invulgar em Literatura Portuguesa. Mário de Sá-Carneiro é considerado o grande alquimista verbal moderno, junto de Fernando Pessoa, nos dizeres de Massaud Moisés.


                   Bom, espero que tenham gostado desta postagem, abraços e até a próxima!!!!!!!!!!!!

                                                                Julio Cesar da Costa                 
    
                

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