terça-feira, 5 de novembro de 2019

         Olá meus queridos visitantes e seguidores do canal "Arte e Cultura', sou o poeta Júlio Dalvorine e estou postando um trabalho que julgo de importância para estudantes e pesquisadores de literatura. Espero que todos gostem!

QUAL A FINALIDADE OU A FUNÇÃO DA LITERATURA?

          Pergunta que no transcurso das diversas sociedades e culturas tem recebido múltiplas e desencontradas respostas e que certamente há de suscitar no futuro a mesma disparidade de soluções. A teoria da literatura tem de atender a esta multiplicidade de aspectos do fenômeno literário, sem a tentação de reduzir a riqueza e a diversidade das formas e das idéias da arte literárias a uma fórmula abstrata e descarnada. Impõe-se, isso sim, que sem desfigurar a realidade histórica da arte literária, a teoria da literatura recolha e interprete as mais significativas e influentes soluções que, no decorrer do tempo, tem sido dadas ao problema da função da literatura - e tais soluções, como á óbvio, interessam-nos enquanto representam estruturas gerais que tem informado, ao longo da história, a experiência literária.
        É relativamente moderna a consciência teórica da validade intrínseca e, consequentemente, da autonomia da literatura, isto é, a consciência de a literatura -- como qualquer outra arte -- possuir os seus valores próprios, de constituir uma atividade independente e específica que não necessita, para legitimar a sua existência, de se colocar ao serviço da polis, da moral, da filosofia, etc. Claro que o homem de letras de qualquer época teve quase sempre consciência do caráter próprio e da dignidade do seu mister de escritor, mas faltou-lhe, até época não muito distante, a consciência de que a sua arte poderia ser julgada com função unicamente de elementos estéticos. Teógnis de Mégara (séc. VI - V a.C.), por exemplo, possui consciência plena da grandeza específica da sua condição de poeta, através da qual pode conceder a imortalidade às pessoas que canta, mas só justifica o seu mister de poeta enquanto subordinado aos princípios de poeta enquanto subordinado aos princípios da ética e da justiça.
         Os conhecidos versos de Horácio que assinalam como finalidade da poesia aut prodesse aut delectare, não implicam um conceito de poesia autônoma, de uma poesia exclusivamente fiel a valores poéticos, ao lado de uma poesia pedagógica. O prazer, o dulce referido por Horácio e mencionado por uma longa tradição literária européia de raiz horaciana, conduz antes a uma concepção hedoista da poesia, o que constitui ainda um meio de tornar dependente, e quantas vezes de subalternizar lastimavelmente, a obra poética.  

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